Pensericando (com açúcar, com afeto)

terça-feira, 1 de junho de 2010

O mundo dos sonhos perdidos


O silêncio dentro daquele quarto era um grito de desespero. Um pedido de ajuda para reconquistar seu grande amor. Será que ela poderia prometer tudo aquilo que não faria só para tê-lo de volta? Não sabia... Sua mente estava perdida. Em plena madrugada, ela acordou em mais um dia de chuva. Abriu os olhos e foi assistir o reflexo das gotas d'água que batiam em sua janela sem hesitar. Cada gota era uma apunhalada em teu peito. Cada estrela era uma foto rasgada de momentos que não voltariam mais. O cheiro de terra molhada trazia a lembrança dos dois deitados naquela rede pendurada na árvore que hoje nem folhas mais tem. Ela se lembrou de tudo, do riso que um dia passou e da solidão que a vestia agora. Ela procurava as respostas no ar. Procurava um modo de aprender a ouvir teus lábios; a ser carregada para onde os sonhos fabricam sua voz.
De repente aquele quarto a parecia tão estranho. Tão pequeno e ao mesmo tempo tão grande. Aqueles dois rostos felizes na foto pareciam nunca ter existido; ter sido apenas mais um sonho, uma história de Romeu e Julieta. A sua estrela da sorte já estava cega. Ela suava angústia, afinal, a chuva é muito triste para ser feliz.
A doçura do seu olhar se perdera, fora para bem longe encontrar numa terra inabitada a felicidade que nunca se permitiu sentir, a liberdade que se transformou em solidão...
A boneca na cama não preenchia mais o vazio do seu corpo que partiu sabe-se lá para onde.
Seu travesseiro molhado de lágrimas não fazia mais diferença. Mas aquele pássaro colorido... Ele sim a importava. Vindo da terra dos sonhos perdidos, de asas multicoloridas; sabia muito bem a hora de cantar ou de ficar caladinho a observando. Como poderia um ser tão pequeno e frágil a compreender como ninguém; emprestar suas asas para ela voar, doar um pedacinho do seu tempo, do seu limite, da sua atenção para satisfazer a pequena garotinha.
A cada visita, o pássaro trazia o sol que faltava durante toda a semana, trazia uma magia que contagiava a menina e por vezes a fazia sorrir. Por um momento tudo parecia fazer sentido e ela podia se sentir em casa novamente. Com o tempo, o pássaro foi se tornando seu confidente. Podia passar horas e horas conversando que não seria o necessário para conversar tudo aquilo que ela precisava. Na verdade, o que ela queria.
O sentimento foi se transformando, transformando, até que a menina percebeu que além de tudo, o pássaro poderia ser seu amor. Agora, que todas as cicatrizes haviam fechado, que ainda existia amor para recomeçar... Por que não?

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